terça-feira, 18 de novembro de 2008

"O REINO FUNGI"


(clicar nas fotos para ampliar)(o menu do blog encontra-se no fim)

Já faz muitos anos que vou para a Serra da Estrela andar a pé ou de bicicleta.Mesmo assim, cada vez que lá vou, descubro ou dão-me a conhecer novos recantos que não me deixam de surpreender pela beleza e pelo estado selvagem onde felizmente os encontramos.
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Desta vez, a convite do meu amigo AG. Inseri-me num passeio pedestre dos
www.caminhosdanatureza.com para ir à descoberta do reino fungi, mas desta vez não ia como guia, esta parte competiria ao AG e ao “eco-fungos” Rui.
A instalação dos painéis fotovoltaicos e a viagem recente à Irlanda e Equador, fizeram um buraco no meu bolso do tamanho da cratera do vulcão Cotopaxi. Como tal, o facto da www.casadaspenhasdouradas.pt estar habitualmente esgotada, foi de certa forma um alivio. A opção escolhida caiu inevitavelmente para o Covão da Ponte onde se pode acampar num local junto ao Mondeguinho. Apesar de um hotel como o da Casa das Penhas Douradas ter todo o conforto que se possa imaginar, acampar junto a um rio, adormecer com o barulho da água e acordar com o chilrear dos pássaros são coisas ao qual não troco por nada.
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A noite como previa foi bastante fria, mas não imaginava que iriam estar - 2Cº. Os dedos quase que petrificavam com o frio ao comer o pequeno-almoço, mas pouco me incomodavam perante a beleza do nascer do dia naquele local fabuloso. O inverno que teima em não chegar faz com que as árvores tenham muita folhagem com cores fabulosas, que vão caindo aos poucos com a suave brisa da manhã, em contraste com a forte geada que tinha transformado a erva num vasto manto branco.
Após ter “descongelado” o carro, dirigi-me para as Penhas Douradas para me juntar ao resto do grupo.
Foi bom reencontrar algumas pessoas que já não via há bastante tempo.
Após termos saído da casa das penhas e deixarmos a estrada, entramos no vale do Mondeguinho onde o Rui se embrenhou logo na floresta à descoberta dos cogumelos.
Os cogumelos estão classificados como um reino denominado Fungi. Calcula-se que existam na terra cerca de 1.5 milhões de espécies, mas confirmados existem cerca de 70 mil. Os fungos contribuem de uma forma muito importante para a preservação da diversidade biológica do nosso planeta e estão presentes em mil e uma formas no nosso quotidiano. Algumas espécies são microscópicas e muitas delas estão presentes no nosso dia-a-dia, desde a fermentação do pão até ao fungo mais conhecido e de extrema importância, a penicilina descoberta por Fleming.
Rui é um fanático da micologia. Se esta palavra já é um pouco complicada para mim, muito mais foram os nomes para descrever os nomes e tipos de cogumelos.
Só mesmo um verdadeiro micologista como o Rui soletrava facilmente nomes como Amanita Phalloides, Agaricus Blazei, Psiloccybe Cubensis, Hygrophoropsis, Heterobasidiomicetas e muitos mais “palavrões”, que para a minha ignorância quase que entravam por uma orelha e saiam por outra, sem que o meu pobre cérebro tivesse capacidade de as reter.
As cores outonais estavam bem presentes e no bosque por onde andávamos, estava simplesmente delicioso com todas aquelas tonalidades, só faltava saltar do meio dos cogumelos um duende ou melhor ainda, um estrunfe.
Enquanto caminhavámos pelo meio do bosque íamos recolhendo alguns cogumelos e tentávamos decifrar as suas características tendo como objectivo final saber se eram comestíveis ou não. Fiquei surpreendido pela diversidade de cogumelos e das suas especificações complexas que ao pouco e pouco o Rui nos ia dando a conhecer.
Ao almoço esperava-nos um verdadeiro repasto junto a uns penedos enormes onde uma pequena cascata caía num lago cristalino cheio de folhas de tom alaranjado.
Conheço quase toda a Serra da Estrela, mas este local é sem dúvida um dos mais bonitos e está num local que pouca gente conhece.
De volta à caminhada de barriga muito cheia, o grupo dividiu-se em dois. Um, continou a senda dos cogumelos e outro “alargou” a caminhada para quem quisesse caminhar mais depressa. Como me apetecia esticar um pouco mais as pernas optei por dar a volta maior.
Depois de sairmos do vale do Mondeguinho atingimos o caminho que vem da Santinha. Aqui as vistas são fabulosas, conseguímos deslumbrar bem ao longe a Serra de Gredos e mais perto o Marão, isto só é possível devido ao dia estar muito claro.
Após termos contemplado as vistas seguimos pelo caminho e logo passamos a estrada para fazer a subida final que nos ia levar às Penhas Douradas. Durante a subida pelo maravilhoso trilho e já na parte final somos contemplados por um pôr-do-sol fantástico. Chegamos à casa das Penhas Douradas era já de noite.
Antes do jantar, as pessoas tiveram o seu momento de relaxe na piscina interior e todos os mimos a que tinham direito, claro que eu, aqui, esqueci-me o quanto é bom acampar e por momentos roguei pragas por não poder estar aqui hospedado.
Antes do maravilhoso jantar servido pelo Paulo, ouve mais uma palestra sobre os cogumelos e o quanto devermos ter cuidado, pois a ingestão de cogumelos venenosos, pois podem ser fatais, embora há alguns que podem provocar alucinações.
O jantar teria inevitavelmente cogumelos apanhados naquele dia, o que deixou muita gente apreensiva após terem ouvido a palestra sobre cogumelos venenosos, claro que ali a qualidade estava mais que assegurada, com um especialista como o Rui.
Quando sai do “quentinho” do hotel para ir para a tenda no Covão, olhei para o termómetro e voltei a rogar pragas.
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Desta vez estão –3Cº e não estou com alucinações. O meu saco cama para – 20Cº deu-me uma maravilhosa noite de sono. Ter bom material nestas circunstâncias torna-se fundamental e até me fez esquecer a maravilhosa Casa das Penhas Douradas, para além do mais o dia ia estar magnífico.
Fiquei de me encontrar com o resto do grupo bem perto do Covão, na Cruz das Jogadas.
O grupo ia-se dividir em dois, um para continuar a observação dos cogumelos e outro ia simplesmente caminhar “esticando” a volta.
Inicialmente descemos um pequeno vale que ia ter ao Covão da Ponte. Neste vale ainda o sol ainda não tinha feito a sua aparição. Os pequenos terrenos agrícolas estavam brancos de geada. Por baixo de algumas árvores ainda com algumas folhas havia um misto de branco da geada com o rosa e amarelo das folhas que iam caindo. No meio destas cores todas, os sons dos badalos dos chocalhos das cabras que iam para o pasto controladas pelos enormes rafeiros Serra da Estrela.
A partir do Covão, uma grande rampa que nos levaria até ao Corredor dos Mouros. Inicialmente bastante inclinada e depois mais suave, foi um desnível subida com cerca de 400 metros. Com a aparição do sol a temperatura subiu consideravelmente levando-nos a tirar quase toda a roupa. Para esta altura do ano a temperatura está demasiado alta.
A vista no alto do Corredor dos Mouros é simplesmente fabulosa, tudo o que a vista podia alcançar, alcançava-o porque não havia uma única nuvem que o impedisse, somente restava algum nevoeiro na zona do Sabugal e Penamacor. Este cenário fez-me recordar um pouco as vistas que tive ao nascer do sol quando escalava o Iliniza, a diferença é que lá estava a cerca de 5000 mt e aqui estou a uns meros 1400 mt de altitude e também não tinha picos com cerca de 6000 mt a nascer como cogumelos no meio das nuvens.
Após termos contemplado aquele cenário começamos a descer suavemente para uma capela perdida no meio de castanheiros centenários e depois para o posto de vigia de S. Lourenço. Deste local têm-se as melhores vistas sobre o vale glaciar do Zezere, simplesmente fantástico. Após termos regalado as vistas com aquelas paisagens embrenhamo-nos no meio da floresta de folha caduca.

É fabuloso caminhar no meio da floresta com as mil e uma cores do Outono. Os nossos pés desaparecem no meio da folhagem, o sol penetrava pelo meio das folhas conseguindo que alguns raios desta forma atingissem o solo, acentuando mais as cores do Outono.

Infelizmente tenho de regressar, despedi-me do resto do pessoal que estava comigo, o homem dos cogumelos ainda continuava no meio da floresta. Se para mim isto é um local fabuloso, imagino para ele!

Tenho muita pena que a verdadeira Serra da Estrela seja desfrutada por pouca gente. A grande maioria continua a fazer um tipo de turismo que sinceramente não é compatível com a realidade serrana, ou seja, o típico turista que leva o carro até à Torre.
Seria bom que as autoridades responsáveis promovessem mais o turismo relacionado com a natureza. Desta forma as pessoas iriam conhecer, compreender e respeitar melhor a realidade serrana, ajudando a preservação da
flora, fauna, costumes e tradições.








2 comentários:

Anônimo disse...

Estou a ver que o relato das viagens começa a ser um vício. E que bom vício! Pelo menos para quem viaja sem sair do computador.

Anônimo disse...

Olha João, eu não conhecia este teu talento para relatar aquilo que já viste,mas digo-te que só agora conheci o teu bolg e não consegui sair sem o ler todo.Acho que de certa maneira "estive" onde estiveste,gostei muito e espero que continues a escrever assim.