quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Éire-Ireland-Irlanda

(clicar nas fotos para ampliar) (o menu do blog encontra-se no fim)
Quando o Aristides e a Paula me convidaram para ir à Irlanda integrado num grupo do Wall Street Institude, não pensei duas vezes e aceitei.
Ao contrário do que tem sido as últimas férias em que vou quase sempre por minha conta e risco, desta vez foi uma viagem organizada, onde a Paula, incansável, organizou tudo meticulosamente não deixando nada ao acaso.

Depois de uma noite com poucas horas de sono, o autocarro levou-nos até Cliffs of Mother.
Antes de lá chegarmos fizemos uma pequena visita ao Bunratty Castle (irlandês: Caiariam Bhun Raithe) e também à pequena aldeia Bunratty.
Tal como em muitas partes da Irlanda, os primeiros a viverem nestas terras foram os Vikings, mas só em 1270 foi construído a primeira estrutura militar. Entre conflitos, destruições e reconstruções, apenas em 1425 o castelo adquire as formas que conhecemos até hoje. O castelo tem a forma de uma torre onde se destaca a parte frontal com a imitação de uma gigantesca porta. No meio aparece a pequena porta de entrada e mais algumas janelas.
Depois das fotos da praxe fomos sem perder tempo para as Cliffs of Mother. Durante esta viagem, todas as paisagens por onde passámps eram lindíssimas com bonitas casas, campos muito verdes com as ovelhas e vacas a pastar tranquilamente. Ao passarmos pela vila de Kilrush, deparamo-nos com uma maravilhosa vista sobre o estuário do rio Shannon (Sionainn em irlandês).
Finalmente as Cliffs of Moher. Aqui a terra acaba abruptamente e precipita-se sobre o mar numas falésias muito bonitas. Podemos percorrê-las através de um bonito trilho revestido e protegido lateralmente com grandes lajes de pedra lembrando a nossa pedra ardósia.
A semelhança com o Cabo da Roca e a fabulosa Costa Vicentina torna-se inevitável. Esta parecença faz com que haja alguns comentários típicos “para quê vir aqui se temos igual em Portugal”. Quem diz isto muito provavelmente nem conhece bem o Cabo da Roca ou a Costa Vicentina, mas enfim! Cada rocha é uma rocha, cada árvore é uma árvore, tudo é diferente, tudo tem uma beleza impar, há que apreciar cada rocha, cada nuvem, cada planta. É o que eu faço, sentindo uma ligeira brisa que vem do Atlântico deixo-me levar por aquela beleza divagando na minha mente ao som da música Celta.
Junto a estas falésias existe um pequeno museu dedicado à geologia, à fauna e à flora local. Também existe um restaurante panorâmico onde comi uma batata enorme recheada de chili picante que viria, mais tarde, a ter consequências nefastas mais tarde.
Aqui sim, torna-se absolutamente necessário fazer uma comparação. Este museu e restaurante encontram-se debaixo do solo não chocando com a paisagem. De um local onde existem apenas verdes prados, falésias e mar, fizeram um ponto turístico, agradável bonito e equilibrado com o meio ambiente.
No regresso, e de volta à estrada. No regresso paramos na cidade de Limerick (Luimneach em irlandês). Esta bonita cidade fica junto ao rio Shannon e destaca-se sobretudo pelo belo King John´s Castle e a St Mary's Cathedral. Apesar de não termos muito tempo deu para dar um belo passeio pela cidade onde tive a oportunidade de entender o porquê dos irlandeses serem o povo mais católico da Europa. Apesar de ser um Domingo, de tarde, há celebrações e as igrejas estão apinhadas de gente.
Finalmente em Dublin. O motorista de muito poucas falas somente fazia um pequeno aceno com os dedos quando se cruzava com outros motoristas conhecidos. A pontualidade dele era impressionante, em contraste com a dos portugueses.
Antes do jantar num Italiano junto ao hotel fiquei surpreendido quando num supermercado ao comprar bananas, vi que havia
um espaço com produtos polacos. A Irlanda nos últimos anos tem sido “invadida” por polacos devido ao facto de a Irlanda ter o quinto PIB per capita mais elevado do mundo e isso inevitavelmente reflecte-se nos bons salários, na qualidade de vida e obviamente ser atractiva para a imigração.
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Como de costume às oito em ponto já o autocarro está à nossa espera, com motorista a fumar o seu habitual cigarro.
Desta feita o autocarro ia levar-nos para a cidade de Cork (Corcaigh em irlandês). Durante a viagem paramos numa pequena aldeia. As aldeias aqui são muito pitorescas, as casas estão muito bem conservadas e todas elas são muito coloridas. O comércio local prevalece, oferecendo um ar bastante acolhedor onde quer que nós entremos, seja uma mercearia ou um inevitável Pub.
Cork é a segunda maior cidade da República da Irlanda, situa-se no sul sendo atravessada pelo River Lee que desagua na baia Cork Harbour que por sua vez se liga ao Sea of Celtic. Toda esta zona tem uma forte actividade portuária pois Cork Harbour tem o segundo maior porto navegável do mundo depois de Sydney.
Como companheiros para visitar Cork, tinha a simpática Fátima, o sempre bem-disposto Luís e a hiper-activa Matilde. Esta “pequena-grande-mulher” fazia os foguetes, atirava-os, apanhava as canas e ainda as reciclava.
Cork não tem muito para ver a não ser a bonita St Finbarre's Cathedral e as movimentadas ruas onde Luís e Matilde devoravam todas as montras e lojas a uma velocidade estonteante, o que para mim se tornou mais cansativo do que escalar o Cotopaxi ou fazer cem quilómetros de bicicleta.
Ao almoço eu e Fátima decidimos metermo-nos num típico bar onde nos deliciamos com uma maravilhosa sopa enquanto Luís e Matilde continuavam a “maratona” pela cidade.
Pouco depois do almoço estamos de novo no autocarro, mas desta vez para fazer uma pequena viagem sempre junto às margens de Cork Harbour onde se vislumbravam as belas casas e palácios, fazendo-me lembrar um pouco o Laco di Como.
Rapidamente chegamos a Cobh (An Cóbh em irlandês) ou antiga Queenstown.
Desta pequena vila partiram entre 1848 e 1950 cerca de 2.5 milhões dos 6 milhões de habitantes que emigraram nesta altura essencialmente para os EUA. É quase a totalidade das pessoas residentes na Republica da Irlanda actualmente, cerca de 4 milhões. Esta emigração está representada por uma bela estátua de bronze em homenagem a Annie Moore e seus irmãos que foram os primeiroa irlandeses serem admitidas nos EUA. Este massivo êxodo deve-se à extrema pobreza que se vivia naquela época.
Embarcavam praticamente só com a roupa que tinham e eram acondicionados em navios em condições desumanas, fazendo com que muitos não aguentassem aquelas viagens intermináveis em busca do sonho americano.
Para além dos EUA, de Queenstown saíram também
navios para todo mundo incluindo a Austrália que naquele tempo era uma antiga colónia penal.
No bonito museu junto ao porto, encontramos recriados todos estes factos numa recreação fiel daqueles tempos. Também no museu se encontra um espólio da antiga frota de navios que por aqui passaram, entre eles se destacam o mais famoso de todos: o Titanic e o menos conhecido Lusitanea que foi atingido por um torpedo de um submarino Alemão em 1915 ceifando a vida a 1198 passageiros das 1959 pessoas, que iam a bordo.
Bem perto do museu está o cais de embarque, onde saíram num ferry os últimos 123 passageiros para embarcarem no Titanic, que tinha saído do porto de Southamptom e que fazia a última escala aqui em Cobh (antiga Queenstown) no dia 11 Abril de 1912. Quanto ao resto da história, toda a gente já sabe.
Nesta bonita vila para além das lindas casas e apartamentos com as suas mil e uma cores, sobressai por detrás a majestosa e gigantesca St. Colman Cathedral.
Sem dúvida que esta bonita vila de Cobh, “encheu” o olho a toda a gente, para além do mais esteve um sol radioso e uma temperatura amena que é coisa rara principalmente em Novembro. Para completar, assistimos a um pôr-do-sol belíssimo sobre a baia de Cork Harbour.
Durante a viagem de regresso interrogava-me como é que um país que até há pouco tempo era um dos mais pobres da Europa é agora um dos mais ricos do Mundo. A resposta até é simples: qualificação da mão-de-obra, redução dos impostos para atrair mais investimento estrangeiro, redução da percentagem que o investimento público tem no PIB e o mais importante de tudo, aposta na educação. Pelo contrário em Portugal vive-se do betão e alcatrão. Claro que podia dar mais exemplos mas acho que o meu blog não teria capacidade nem tamanho para suportar os meus devaneios e sátiras sobre a política portuguesa.
Ao jantar, quase todos optámos por um restaurante “americanizado” bem ao estilo dos anos 60 com bancos a imitar os dos Cadillac pequenas Jukebox afixadas nas paredes. Só faltava entrar no restaurante o Elvis Presley, the king!
Claro que a comida era aquela que se esperava, toneladas de carne sebosa e mal temperada e regada com molhos que me dava vontade de vomitar só de olhar. Um exagero de comida, até para os típicos portugueses “enfarta brutos”. Claro que depois tivemos de caminhar uns quarteirões em redor do hotel para digerir aquilo tudo.
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Como era habitual o autocarro estava às oito da manhã em frente ao hotel, desta vez o motorista estava mais bem-disposto e á se ria com a boa disposição de Matilde. Apesar de ter uma fisionomia tipicamente irlandesa, por vezes até pensava que ele até que tinha alguns genes portugueses, especialmente no que dizia respeito à condução, pois tinha o pé bem pesado.
Desta vez, o autocarro ia nos levar à Irlanda do Norte (Tuaisceart Éireann em irlandês), para visitarmos Giant´s Causeway.
Aconteceu-me por vezes que, enquanto viajávamos, ficar destraido por muito tempo e quando voltava a olhar para estrada, assustava-me quase sempre, mas rapidamente me lembrava que estava na terra dos “bifes” e aqui se conduzia ao contrario, aliás interrogo-me porque é que eles têm tudo ao contrário em relação ao resto da Europa, começando pelas unidades de medida até à maneira de conduzir.
Durante as manhãs com neblina, passarmos por velhos castelos abandonados no meio dos extensos prados, imagino como Bram Stoker arranjou inspiração para escrever um dos livros mais conhecidos em todo o mundo, que passou posteriormente para o cinema: Drácula. Para além de Bram Stoker, também Oscar Wilde é um dos escritores irlandeses mais conhecidos em todo mundo.
O Norte é talvez a parte mais bonita de toda a Irlanda. O relevo é ligeiramente ondulado com pequenas colinas muito verdejantes de prados e pequenas florestas. Ao aproximarmo-nos da costa, no meio do oceano vislumbramos a Escócia. O autocarro aqui anda relativamente perto das falésias. As vistas são fabulosas, os prados estendem-se mesmo até junto ao mar, como se ali tivesse sido colocado ali um tapete verde. Também passamos por bonitas praias, com o sol que estava até dava vontade de dar um mergulho, mas logo me lembra que a temperatura exterior não era a que estava dentro do autocarro.
Finalmente chegamos às Giant´s Causeway. Aqui existe um pequeno museu, algumas lojas e restaurantes. Para lá chegarmos tivemos de andar um pouco, cerca de quinze minutos. Estas formações rochosas em forma hexagonal, fazem-me lembrar os favos das colmeias. Estas rochas de basalto tiveram origem há cerca de 60 milhões de anos devido às erupções vulcânicas e erosão nos anos sucessivos. Apesar da extrema erosão que estas maravilhosas rochas tiveram ao longo dos anos, noto que é a erosão humana que está a desgastar ainda mais estas formas rochosas. Interrogo-me se os geólogos ou os responsáveis por este parque têm noção disso.
Ao percorrer os “favos” bem junto ao mar, com uma brisa amena, a pequena rebentação das ondas faz-me divagar um pouco nos meus pensamentos e imagino o som da flauta do James Galway. Estar aqui,facilita bastante deixar-nos evadir por uma certa melancolia e concluo que é perfeitamente natural que estas terras haja muitos mitos is lendas. Áliás, cada uma destas pedras tem uma lenda. A propósito, existe aqui uma lenda que fala do gigante Finn Maccool que construi uma passagem entre Irlanda e a Escócia para depois poder desafiar o gigante escocês Benandonner. Deste modo, Ben não tinha como fugir à prococação. Mas à medida que Ben se vai aproximando através da passagem, Finn fica horrorizado com o tamanho do seu oponente. Foge para sua casa para junto da sua mulher e filho. A solução encontrada por Finn e Oonagh, sua mulher, foi vestir-se de criança e esconder a verdadeira criança. Quando Ben chega a casa de Finn de depara com aquela enorme criança, fica de tal modo estupefacto que nem consegue imaginar de que tamanho seria o pai. Aterrorizado com a possibilidade de o encontrar, foge para Escócia a toda a velocidade que podia, destruindo a passagem que tinha sido construido por Ben.
Estas pedras por onde eu ando a deambular são o resto dessa passagem.
Ao almoço, fomos a um restaurante típico, onde não faltou o homem com a gaita-de-foles e que para além desta tocava também pífaro e violino. Só quando ele começou a tocar o Viva la Espanha para nos agradar e nós respondemos com um Viva a Portugal é que ele percebeu que éramos portugueses.
O guisado de borrego típico daquela zona não me agradou muito, mas houve quem tivesse gostado, talvez porque depois de beberem aquelas cervejas de litro diluísse melhor o gosto do ensopado.
Como o almoço se prolongou, saímos um pouco mais tarde que o previsto, para desespero do motorista e da Paula que muito se preocupava com o bem-estar de todos.
De regresso a Dublin. Antes de entrarmos na Republica da Irlanda (Poblacht na hÉirean -irlandês) passamos por Belfast e recordo-me dos bailes da minha terra quando era miúdo e cantávamos Sunday Bloody Sunday dos U2. O passado recente desta cidade não me deixa indiferente com os conflitos que aqui houveram tendo como pretexto a religião para incendiar ódios que ainda hoje perduram. Ódios que são usados e manipulados para que alguns mesquinhos políticos atinjam suas hipócritas ambições.
Como é o meu último dia na Irlanda, não tinha muito mais tempo. Ao contrário do resto do pessoal eu tinha de partir na madrugada seguinte. Mesmo assim ainda deu tempo para ir ao “frenético” centro de Dublin, onde fomos jantar a um italiano que fez a delícia dos que decidiram beber cinco garrafas de Rosé e muitas mais cervejas. A noite não ficou completa sem uma visita ao mítico Temple Bar, que ajudou para atestar com mais umas cervejas para quem ainda não tivesse suficientemente satisfeito.

Fiquei com vontade de voltar a esta terra de lendas e mitos criados pelas simpáticas pessoas, paisagens verdejantes que se fundem com o azul-escuro do mar.

Um muito obrigado aos meus queridos amigos Aristides e Paula por me terem proporcionado esta viagem. Sei o quanto custa organizar este tipo de viagem. Conduzir pessoas sem que elas se apercebam que estão a ser conduzidas não é fácil devido à diversidade de personalidades, e conjugar a vontade de todos exige bastante perícia. Mas Paula fê-lo na perfeição, esteve sempre sorridente e prestável, para quem da ajuda dela necessitasse.



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2 comentários:

Anônimo disse...

então e quando o livro???????
as tuas histórias deveriam mesmo ser partilhadas com muitos outros
obrigadA amigo mais uma veZ pela descrição...
um abraço
FR

Sabes quem sou;) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.