terça-feira, 23 de dezembro de 2008

PAIS NATAL EM "CRISE"

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Como é habitual, todos os anos, eu e mais uns tantos, vestimo-nos mais ou menos à Pai Natal e vamos “ciclar” algumas avenidas e ruas de Lisboa para ver a iluminação natalícia.

Sai do trabalho com intenção de ir para o ponto de encontro em Algés. Como me faltava comprar uma prenda cai na grande asneira de ir a um centro comercial. Só pensava, burro, burro, burro, já sabia, porque é que eu vim!
Crise? Somente para os crónicos pobres. Entro e saio cheio de “coceira” no corpo, estava tudo infernal. Para sair do shopping demoro meia-hora. A causa, um segurança a fazer de policia sinaleiro com uma daquelas placas para peões com vermelho de um lado e verde do outro. Só que ali não haviam peões, somente carros e ainda por cima numa via publica . Será que é legal?
Após uma hora chego ao ponto de encontro. Alguns vieram de bicicleta para fugir ao transito.
Não eramos muitos, mas os do costume estavam lá. Foi bom voltar a estar com pessoal que já não vejo há um ano exactamente num passeio de Pais Natal.
Como é costume, fomos beira rio até Praça do Comercio para de seguida treparmos até ao castelo e depois descermos desenfreadamente por Alfama.
Quando passamos em frente à Praça do Comercio, ouvi uma voz feminina a dizer timidamente “Pimpão”, olhei, para meu espanto e minha alegria era a Deolinda. A Deolinda foi a senhora que me acolheu quando estive em Cabo Verde. Fiquei feliz por voltar a ver esta querida cabo verdiana e saber que a família dela está bem, que saudades!!!!
Subimos a Rua Augusta, que estava totalmente deserta, e como é habitual fomos comer uma bifana ao Rossio. Que saudades de comer uma bifana com aquele molho retardado de vinte e quatro horas com aquele sabor a “requentado”. De seguida a habitual ginginha em copos “ecológicos” que não conhecem água nem detergente há dias. Bendita ASAE, que compreende as preocupações ecológicas destes estabelecimentos na poupança de águas e detergentes e óleos.
Subimos a Avenida e de seguida o Parque Eduardo VII, onde está árvore de Natal. Como eramos os únicos a usar a farda da Coca-Cola e a dizer hohoho, naturalmente fomos a principal atracção para miúdos e graúdos, até uns estrangeiros queriam pagar-nos para tirar fotos. Sem duvida foi um momento muito agradável, estávamos todos felizes.
Após a passagem pela árvore de Natal, seguimos para as Amoreiras e descemos para o Rato. Na descida, um peão distraído, atravessa a estrada. Como estava o olhar para o telemóvel não se apercebeu que vinha um ciclista a descer a todo o gás, berro, mas o maldito telemóvel tinha adormecido os sentidos do homem. Como não me podia desviar devido aos carris do eléctrico, acciono os travões com toda a potência. O homem subitamente apercebe-se da situação e desvia-se o suficiente para eu passar. Afinal era um estudante com uma capa e quando se desvia eu mais parecia um touro a investir na capa do toureiro.
Nunca fiz o Largo do Rato tão depressa. Seguimos para o Bairro Alto e de seguida para o Largo do Camões. Está tudo deserto. É um contraste abismal entre os centros comercias e as ditas ruas mais movimentadas de Lisboa. Muito poderia escrever sobre isto, mas como estamos no Natal, estou a tentar não ser muito corrosivo e manter a linha natalícia.
Para minha felicidade e para desespero de outros a descida da Bica, que culmina numa escadaria, é o delírio total.
Atravessamos a 24 Julho pela ponte pedonal e regressamos a Algés. Apesar da hora adiantada, as docas estavam um deserto, somente os porteiros e alguns turistas marcavam presença.
Há já alguns anos que faço este passeio e dá-me um imenso gozo deambular pelas ruas da maravilhosa Lisboa de bicicleta.

Desejo a todos um Feliz Natal e para 2009, o meu maior desejo, é que deixem os carros em casa e vão passear a pé ou de bicicleta em vez de irem para os Centros Comercias. A vossa saúde, a carteira e o comercio tradicional, agradecem.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

TROIA-SAGRES

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Foi em 1996 que fiz a primeira travessia em BTT e foi de Tróia até Lagos. Na altura foi organizada pelo Fernando e
pelo o João. Curioso que depois tornamo-nos amigos e desde então já “palmilhamos” umas valentes serras com as nossas biclas.

Normalmente,os dias que me custam a sair da cama são para ir trabalhar, se for para fazer outra coisa que não trabalhar, fico logo com uma espécie de formigueiro para sair da cama, mas desta vez era diferente. São 4.30, ouvia a trovoada e o vento a projectar a chuva contra a janela.
Após levantar-me com muito custo, segui para Loures para dar boleia ao Jorge e de seguida para Telheiras para apanhar mais pessoal. Tínhamos de estar em Setúbal pelas 7.30 para apanhar o ferry.
As oito em ponto estavam todos os que tinham confirmado fazer esta travessia, ninguém tinha-se “cortado”.
Ao montar a bicicleta vejo, para meu desespero, que me tinha esquecido em Telheiras do selim dentro do carro. Felizmente a Caminhos da Natureza tem uma bicicleta suplente, o que deu para retirar o selim e montar na minha bicla.
Da primeira que fiz uma travessia fi-la como cliente, agora ia fazê-la como guia pela www.caminhosdanatureza.com .
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Finalmente a rolar. Como que por magia parou de chover e apareceram alguns tímidos raios de sol. Os primeiros quilómetros são feitos inevitavelmente por asfalto pois não existem caminhos nesta península, quase toda ela tem terreno de areia. Após sairmos da “menos-horrivel-Troia” (menos porque fizeram alguns melhoramentos a nível urbanístico). A paisagem é agradável com o estuário do Sado no lado esquerdo e o a
Atlântico no lado direito com a Arrábida em pano de fundo com nuvens muito negras a ameaçar chuva a qualquer momento.
Após os kms iniciais, chegamos à Comporta. A partir de aqui seriam cerca de 11kms pelo meio dos arrozais. Apesar de estar tudo muito encharcado, o piso não estava muito mole o que permitia rolar com alguma velocidade. O caminho é ao longo dos canais, o que permite observar as muitas aves que descansam e passam aqui o Inverno após a sua longa migração. Apesar de tudo não pareciam muito incomodadas com a nossa presença. Devem estar muito habituadas à presença humana pois estão em permanente contacto com os agricultores.
Quando chegamos a Carvalhal e ao passarmos por um café, chegou a hora dos “cafeína-dependentes”.
Depois de Carvalhal, deixamos os arrozais. O piso torna-se mais mole, o que dificulta um pouco a progressão. Apesar de ter chovido os caminhos de areia não ficaram mais duros, antes pelo contrário.
As nuvens muito negras que nos rodeavam e que até agora nos tinha poupado, uniram-se e projectaram sem piedade granizo, vento e depois chuva. O que nos valia é que o vento vinha de trás e até ajudava. Os caminhos tornaram-se num lamaçal, o que provoca um desgaste tremendo na transmissão da bicicleta e também na nossa massa muscular.
Este desgaste reflectiu-se numa corrente partida e numa suspensão traseira que deixou de funcionar.
Aos poucos e poucos íamos entrando na Serra de Grandola. A planície tinha ficado para trás e dava lugar ao chamado “rompe-pernas”, ou seja, um sobe e desce constante. Por várias vezes tivemos de fazer alguns trilhos pelas ribeiras que ainda têm pouca água. Este tipo de relevo fez a delícia de todos, apesar de haver alguma lama e continuar a chover a vegetação é lindíssima com bosques de carvalhos, azinheiras e principalmente sobreiros.
No abastecimento repomos as calorias necessárias, pois muitos queixavam-se do frio. O impermeável da Montane, manteve o meu corpo bem sequinho, somente as pernas estavam molhadas, mas com pedalar elas facilmente aqueceriam.
O “frizadinho” do relevo continuou, mas não muito acentuado. A cerca de 8 km de Santiago do Cacem, havia duas opções, a primeira por estrada e a segunda continuava pelos caminhos. Uma parte do grupo optou pela primeira devido ao cansaço. O outro optou por aquela que viria a ser o troço mais demolidor. Descidas alucinantes e rampas de morder o volante fizeram o deleite de todos os que quiseram experimentar esta vertente mais difícil.
Esta etapa reflectiu-se em 85 kms, onde a principal dificuldade apesar da chuva e do frio, foi o piso um pouco mole o que reflectiu num desgaste considerável nos nossos corpos.
Após a lavagem das biclas e de um banho de uma hora para tirar toda a lama, jantamos uma bela massada de porco preto, o único senão foi o facto de o restaurante ser para fumadores e isso era um facto que desconhecíamos a quando da reserva. Apesar de tudo tinham uma pequena sala de não fumadores, mas não significou que não tivéssemos de levar algumas “baforadas” de fumo.

Apesar da chuva que caiu de noite, o dia acorda radioso. Saímos de Santiago e fomos deixando para trás o imponente castelo dos Mouros onde sobressai a igreja matriz. Não tardou muito para a entrarmos na serra para mais um sobe e desce. O sol incidia sobre a vegetação molhada, reflectindo cores intensas e também aromas agradáveis proveniente da esteva. O piso continuava um pouco mole. Ao passarmos por Sonega os “cafeína-dependentes” voltam a barafustar.
Já tínhamos saído da Serra de Grandola e estávamos a entrar na Serra do Cercal. Inicialmente predomina a praga do eucalipto, mas depois de uma grande descida entramos num vale onde predomina árvores de folha caduca, onde até havia castanheiros, sem dúvida um cenário que não é muito normal ver no Alentejo. Nesta zona existem muitos portões em forma de rede, o que nos obrigava sistematicamente a parar para passá-los.
Antes de fazermos a subida final para o alto da Senhora das Neves, um desviador traseiro XTR desfez-se em mil bocados. Apesar te ter tentado fazer uma “ligação directa”, esta não resultou. Felizmente tínhamos a carrinha de assistência.
As vistas no alto da serra são fabulosas, desde a Serra da Arrábida até ao Cabo Sardão. Ao longe, nuvens começam a aproximar-se perigosamente.
Até ao Cabo Sardão é sempre a rolar num misto de estradões e asfalto. O pessoal excitasse um pouco dando origem às habituais escaramuças.
Rapidamente chegamos ao Cabo Sardão, os andamentos mais pesados reflectiram-se em muita fome e quando chegamos à assistência, avidamente comemos praticamente tudo o que havia para comer.
Do Cabo Sardão até ao Porto das Barcas o caminho é sempre junto à espectacular falésia. O caminho é muito rápido e ajudado pelo forte vento que entretanto se levantou fazia-nos “voar”. “Voamos” tanto que uma rajada mais forte fez colidir dois betetistas provocando uma queda, mas felizmente sem consequências.
Antes de chegarmos à Zambujeira do Mar começa a chover, mas não seria por muito tempo.
Depois da Zambujeira, até à praia Praia do Carvalhal é feito por um estradão algo irregular, o que fez desesperar os meu “traseiro”. Nestas alturas sonho sempre em ter uma bicicleta de suspensão total.
A partir de Brejão entramos na fase final, ou seja os últimos 10kms seriam percorridos em trilho sempre junto aos canais de rega.
Quando o terreno está seco, pode-se fazer quase sempre em “talega”(pedaleiro grande), mas com a lama e erva molhada fazia com que o piso ficasse “manteiga”, ao mínimo deslize iríamos parar ao canal. Mas pensando melhor até que não seria muito mau, apesar do frio, um banho sempre tirava a imensa lama que tinha.
Faltava cerca dez minutos para o por-do-sol e chegamos ao fim do canal e avistamos Odeceixe. Só faltava descer a íngreme descida, que muitos não se atreveram a fazê-la montado.
O dia tinha rendido cerca de 100kms e mais uma vez o que mais dificultou foi o “terreno pesado”. Para repor as energias degustamos uma bela espetada de tamboril com batata doce, um verdadeiro pitéu.

Apesar de todos se queixarem do cansaço acumulado, na primeira subida ao sair de Odeceixe ninguém se poupou e começaram a subir desenfreadamente para desespero das minhas pernas.
A senda dos canais continuava seriam cerca de 15km até ao Rogil. Apesar de estar Sol o piso estava muito empapado saltando lama por tudo o que era sítio.
Finalmente tinhamos-nos livrado dos canais. Este percurso é muito bonito, mas com esta lama torna-se num verdadeiro pesadelo. Do Rogil até Aljezur é sempre a dar “gás” inicialmente por um estradão plano, seguido de uma descida muito rápida e depois um asfalto secundário.
A saída de Aljezur é feita por uma forte subida até ao castelo, continuando a subida depois por asfalto. O percurso aqui, teve de ser alterado devido à muita lama existente no caminho junto ao rio.
Após o alcatrão entramos num caminho sempre a descer até Praia do Penedo. As vistas aqui são fabulosas fazendo-me lembrar as Cliffs of Moher na Irlanda. Para mim este local é sem dúvida um dos mais bonitos de Portugal.
Esta beleza desvaneceu-se com uma forte subida em que o piso lamacento contribuiu para que esta fosse talvez a subida mais difícil da travessia.
Passada esta dificuldade começa a chover copiosamente. O holandês Marck, já rogava pragas até ele que está habituado à chuva, estava a barafustar. Não chove em Portugal há mais de uma mês e ele acertou mesmo na “mosca”, veio e começou a chover. As minhas alfaces e couves agradecem.
Da Bordeira até à Praia do Amado choveu torrencialmente, a lama e água que os pneus projectavam quase que me cegavam. Por milagre, quando chegamos à Praia do Amado para reabastecermos parou de chover e fez-se sol.
Enquanto comíamos, colocamo-nos ao sol que nem uns lagartos para tentar secar e aquecer um pouco. Após termos recarregado as baterias, apanhamos logo de seguida um verdadeiro “petisco” de barro vermelho que se colava a tudo o que era sítio, tornando a progressão muito difícil.
Passada esta zona hiper-lamacenta, ciclamos num trilho mesmo junto à falésia, muito bonito mas que obrigava a redobrada atenção. Neste mesmo trilho uma pedra mais afiada corta-me o pneu. A “nenha”, não é suficiente para tapar o buraco do pneu tubless, a solução é colocar uma camera de ar. O resto do grupo continuou.
Como conheço bem a zona, trepo uma falésia com a bicicleta às costas para atalhar. Pedalo cerca de 500mt e subitamente, sem que houvesse razão para tal, o carreto pequeno “chupa” a corrente partindo-a em dois.
Ultimamente tem sido uma praga quanto às correntes partidas. Quando fazia competição só por uma vez parti uma , agora cada vez que saio parto quase sempre qualquer coisa.
Definitivamente tenho de ir à bruxa.
A travessia acabou para mim.
Entretanto aparece o resto do grupo e continuam o passeio pela zona mais bonita de toda a travessia, passando pelas praias da Murração, Praia da Barriga e Praia do Castelejo, sempre num sobe e desce constante junto às enormes falésias até Sagres.
A mim, restava-me andar a pé cerca de 4km até chegar à estrada onde a carrinha me apanharia.
Já por muitas vezes fiz a Costa Vicentina a pé ou de bicicleta e por muito que viaje continua a ser um dos locais mais bonitos que conheço. Não é necessário fazer grandes viagens para vermos locais belíssimos, eles por vezes estão aqui mesmo à “porta”