terça-feira, 23 de dezembro de 2008

PAIS NATAL EM "CRISE"

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Como é habitual, todos os anos, eu e mais uns tantos, vestimo-nos mais ou menos à Pai Natal e vamos “ciclar” algumas avenidas e ruas de Lisboa para ver a iluminação natalícia.

Sai do trabalho com intenção de ir para o ponto de encontro em Algés. Como me faltava comprar uma prenda cai na grande asneira de ir a um centro comercial. Só pensava, burro, burro, burro, já sabia, porque é que eu vim!
Crise? Somente para os crónicos pobres. Entro e saio cheio de “coceira” no corpo, estava tudo infernal. Para sair do shopping demoro meia-hora. A causa, um segurança a fazer de policia sinaleiro com uma daquelas placas para peões com vermelho de um lado e verde do outro. Só que ali não haviam peões, somente carros e ainda por cima numa via publica . Será que é legal?
Após uma hora chego ao ponto de encontro. Alguns vieram de bicicleta para fugir ao transito.
Não eramos muitos, mas os do costume estavam lá. Foi bom voltar a estar com pessoal que já não vejo há um ano exactamente num passeio de Pais Natal.
Como é costume, fomos beira rio até Praça do Comercio para de seguida treparmos até ao castelo e depois descermos desenfreadamente por Alfama.
Quando passamos em frente à Praça do Comercio, ouvi uma voz feminina a dizer timidamente “Pimpão”, olhei, para meu espanto e minha alegria era a Deolinda. A Deolinda foi a senhora que me acolheu quando estive em Cabo Verde. Fiquei feliz por voltar a ver esta querida cabo verdiana e saber que a família dela está bem, que saudades!!!!
Subimos a Rua Augusta, que estava totalmente deserta, e como é habitual fomos comer uma bifana ao Rossio. Que saudades de comer uma bifana com aquele molho retardado de vinte e quatro horas com aquele sabor a “requentado”. De seguida a habitual ginginha em copos “ecológicos” que não conhecem água nem detergente há dias. Bendita ASAE, que compreende as preocupações ecológicas destes estabelecimentos na poupança de águas e detergentes e óleos.
Subimos a Avenida e de seguida o Parque Eduardo VII, onde está árvore de Natal. Como eramos os únicos a usar a farda da Coca-Cola e a dizer hohoho, naturalmente fomos a principal atracção para miúdos e graúdos, até uns estrangeiros queriam pagar-nos para tirar fotos. Sem duvida foi um momento muito agradável, estávamos todos felizes.
Após a passagem pela árvore de Natal, seguimos para as Amoreiras e descemos para o Rato. Na descida, um peão distraído, atravessa a estrada. Como estava o olhar para o telemóvel não se apercebeu que vinha um ciclista a descer a todo o gás, berro, mas o maldito telemóvel tinha adormecido os sentidos do homem. Como não me podia desviar devido aos carris do eléctrico, acciono os travões com toda a potência. O homem subitamente apercebe-se da situação e desvia-se o suficiente para eu passar. Afinal era um estudante com uma capa e quando se desvia eu mais parecia um touro a investir na capa do toureiro.
Nunca fiz o Largo do Rato tão depressa. Seguimos para o Bairro Alto e de seguida para o Largo do Camões. Está tudo deserto. É um contraste abismal entre os centros comercias e as ditas ruas mais movimentadas de Lisboa. Muito poderia escrever sobre isto, mas como estamos no Natal, estou a tentar não ser muito corrosivo e manter a linha natalícia.
Para minha felicidade e para desespero de outros a descida da Bica, que culmina numa escadaria, é o delírio total.
Atravessamos a 24 Julho pela ponte pedonal e regressamos a Algés. Apesar da hora adiantada, as docas estavam um deserto, somente os porteiros e alguns turistas marcavam presença.
Há já alguns anos que faço este passeio e dá-me um imenso gozo deambular pelas ruas da maravilhosa Lisboa de bicicleta.

Desejo a todos um Feliz Natal e para 2009, o meu maior desejo, é que deixem os carros em casa e vão passear a pé ou de bicicleta em vez de irem para os Centros Comercias. A vossa saúde, a carteira e o comercio tradicional, agradecem.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

TROIA-SAGRES

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Foi em 1996 que fiz a primeira travessia em BTT e foi de Tróia até Lagos. Na altura foi organizada pelo Fernando e
pelo o João. Curioso que depois tornamo-nos amigos e desde então já “palmilhamos” umas valentes serras com as nossas biclas.

Normalmente,os dias que me custam a sair da cama são para ir trabalhar, se for para fazer outra coisa que não trabalhar, fico logo com uma espécie de formigueiro para sair da cama, mas desta vez era diferente. São 4.30, ouvia a trovoada e o vento a projectar a chuva contra a janela.
Após levantar-me com muito custo, segui para Loures para dar boleia ao Jorge e de seguida para Telheiras para apanhar mais pessoal. Tínhamos de estar em Setúbal pelas 7.30 para apanhar o ferry.
As oito em ponto estavam todos os que tinham confirmado fazer esta travessia, ninguém tinha-se “cortado”.
Ao montar a bicicleta vejo, para meu desespero, que me tinha esquecido em Telheiras do selim dentro do carro. Felizmente a Caminhos da Natureza tem uma bicicleta suplente, o que deu para retirar o selim e montar na minha bicla.
Da primeira que fiz uma travessia fi-la como cliente, agora ia fazê-la como guia pela www.caminhosdanatureza.com .
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Finalmente a rolar. Como que por magia parou de chover e apareceram alguns tímidos raios de sol. Os primeiros quilómetros são feitos inevitavelmente por asfalto pois não existem caminhos nesta península, quase toda ela tem terreno de areia. Após sairmos da “menos-horrivel-Troia” (menos porque fizeram alguns melhoramentos a nível urbanístico). A paisagem é agradável com o estuário do Sado no lado esquerdo e o a
Atlântico no lado direito com a Arrábida em pano de fundo com nuvens muito negras a ameaçar chuva a qualquer momento.
Após os kms iniciais, chegamos à Comporta. A partir de aqui seriam cerca de 11kms pelo meio dos arrozais. Apesar de estar tudo muito encharcado, o piso não estava muito mole o que permitia rolar com alguma velocidade. O caminho é ao longo dos canais, o que permite observar as muitas aves que descansam e passam aqui o Inverno após a sua longa migração. Apesar de tudo não pareciam muito incomodadas com a nossa presença. Devem estar muito habituadas à presença humana pois estão em permanente contacto com os agricultores.
Quando chegamos a Carvalhal e ao passarmos por um café, chegou a hora dos “cafeína-dependentes”.
Depois de Carvalhal, deixamos os arrozais. O piso torna-se mais mole, o que dificulta um pouco a progressão. Apesar de ter chovido os caminhos de areia não ficaram mais duros, antes pelo contrário.
As nuvens muito negras que nos rodeavam e que até agora nos tinha poupado, uniram-se e projectaram sem piedade granizo, vento e depois chuva. O que nos valia é que o vento vinha de trás e até ajudava. Os caminhos tornaram-se num lamaçal, o que provoca um desgaste tremendo na transmissão da bicicleta e também na nossa massa muscular.
Este desgaste reflectiu-se numa corrente partida e numa suspensão traseira que deixou de funcionar.
Aos poucos e poucos íamos entrando na Serra de Grandola. A planície tinha ficado para trás e dava lugar ao chamado “rompe-pernas”, ou seja, um sobe e desce constante. Por várias vezes tivemos de fazer alguns trilhos pelas ribeiras que ainda têm pouca água. Este tipo de relevo fez a delícia de todos, apesar de haver alguma lama e continuar a chover a vegetação é lindíssima com bosques de carvalhos, azinheiras e principalmente sobreiros.
No abastecimento repomos as calorias necessárias, pois muitos queixavam-se do frio. O impermeável da Montane, manteve o meu corpo bem sequinho, somente as pernas estavam molhadas, mas com pedalar elas facilmente aqueceriam.
O “frizadinho” do relevo continuou, mas não muito acentuado. A cerca de 8 km de Santiago do Cacem, havia duas opções, a primeira por estrada e a segunda continuava pelos caminhos. Uma parte do grupo optou pela primeira devido ao cansaço. O outro optou por aquela que viria a ser o troço mais demolidor. Descidas alucinantes e rampas de morder o volante fizeram o deleite de todos os que quiseram experimentar esta vertente mais difícil.
Esta etapa reflectiu-se em 85 kms, onde a principal dificuldade apesar da chuva e do frio, foi o piso um pouco mole o que reflectiu num desgaste considerável nos nossos corpos.
Após a lavagem das biclas e de um banho de uma hora para tirar toda a lama, jantamos uma bela massada de porco preto, o único senão foi o facto de o restaurante ser para fumadores e isso era um facto que desconhecíamos a quando da reserva. Apesar de tudo tinham uma pequena sala de não fumadores, mas não significou que não tivéssemos de levar algumas “baforadas” de fumo.

Apesar da chuva que caiu de noite, o dia acorda radioso. Saímos de Santiago e fomos deixando para trás o imponente castelo dos Mouros onde sobressai a igreja matriz. Não tardou muito para a entrarmos na serra para mais um sobe e desce. O sol incidia sobre a vegetação molhada, reflectindo cores intensas e também aromas agradáveis proveniente da esteva. O piso continuava um pouco mole. Ao passarmos por Sonega os “cafeína-dependentes” voltam a barafustar.
Já tínhamos saído da Serra de Grandola e estávamos a entrar na Serra do Cercal. Inicialmente predomina a praga do eucalipto, mas depois de uma grande descida entramos num vale onde predomina árvores de folha caduca, onde até havia castanheiros, sem dúvida um cenário que não é muito normal ver no Alentejo. Nesta zona existem muitos portões em forma de rede, o que nos obrigava sistematicamente a parar para passá-los.
Antes de fazermos a subida final para o alto da Senhora das Neves, um desviador traseiro XTR desfez-se em mil bocados. Apesar te ter tentado fazer uma “ligação directa”, esta não resultou. Felizmente tínhamos a carrinha de assistência.
As vistas no alto da serra são fabulosas, desde a Serra da Arrábida até ao Cabo Sardão. Ao longe, nuvens começam a aproximar-se perigosamente.
Até ao Cabo Sardão é sempre a rolar num misto de estradões e asfalto. O pessoal excitasse um pouco dando origem às habituais escaramuças.
Rapidamente chegamos ao Cabo Sardão, os andamentos mais pesados reflectiram-se em muita fome e quando chegamos à assistência, avidamente comemos praticamente tudo o que havia para comer.
Do Cabo Sardão até ao Porto das Barcas o caminho é sempre junto à espectacular falésia. O caminho é muito rápido e ajudado pelo forte vento que entretanto se levantou fazia-nos “voar”. “Voamos” tanto que uma rajada mais forte fez colidir dois betetistas provocando uma queda, mas felizmente sem consequências.
Antes de chegarmos à Zambujeira do Mar começa a chover, mas não seria por muito tempo.
Depois da Zambujeira, até à praia Praia do Carvalhal é feito por um estradão algo irregular, o que fez desesperar os meu “traseiro”. Nestas alturas sonho sempre em ter uma bicicleta de suspensão total.
A partir de Brejão entramos na fase final, ou seja os últimos 10kms seriam percorridos em trilho sempre junto aos canais de rega.
Quando o terreno está seco, pode-se fazer quase sempre em “talega”(pedaleiro grande), mas com a lama e erva molhada fazia com que o piso ficasse “manteiga”, ao mínimo deslize iríamos parar ao canal. Mas pensando melhor até que não seria muito mau, apesar do frio, um banho sempre tirava a imensa lama que tinha.
Faltava cerca dez minutos para o por-do-sol e chegamos ao fim do canal e avistamos Odeceixe. Só faltava descer a íngreme descida, que muitos não se atreveram a fazê-la montado.
O dia tinha rendido cerca de 100kms e mais uma vez o que mais dificultou foi o “terreno pesado”. Para repor as energias degustamos uma bela espetada de tamboril com batata doce, um verdadeiro pitéu.

Apesar de todos se queixarem do cansaço acumulado, na primeira subida ao sair de Odeceixe ninguém se poupou e começaram a subir desenfreadamente para desespero das minhas pernas.
A senda dos canais continuava seriam cerca de 15km até ao Rogil. Apesar de estar Sol o piso estava muito empapado saltando lama por tudo o que era sítio.
Finalmente tinhamos-nos livrado dos canais. Este percurso é muito bonito, mas com esta lama torna-se num verdadeiro pesadelo. Do Rogil até Aljezur é sempre a dar “gás” inicialmente por um estradão plano, seguido de uma descida muito rápida e depois um asfalto secundário.
A saída de Aljezur é feita por uma forte subida até ao castelo, continuando a subida depois por asfalto. O percurso aqui, teve de ser alterado devido à muita lama existente no caminho junto ao rio.
Após o alcatrão entramos num caminho sempre a descer até Praia do Penedo. As vistas aqui são fabulosas fazendo-me lembrar as Cliffs of Moher na Irlanda. Para mim este local é sem dúvida um dos mais bonitos de Portugal.
Esta beleza desvaneceu-se com uma forte subida em que o piso lamacento contribuiu para que esta fosse talvez a subida mais difícil da travessia.
Passada esta dificuldade começa a chover copiosamente. O holandês Marck, já rogava pragas até ele que está habituado à chuva, estava a barafustar. Não chove em Portugal há mais de uma mês e ele acertou mesmo na “mosca”, veio e começou a chover. As minhas alfaces e couves agradecem.
Da Bordeira até à Praia do Amado choveu torrencialmente, a lama e água que os pneus projectavam quase que me cegavam. Por milagre, quando chegamos à Praia do Amado para reabastecermos parou de chover e fez-se sol.
Enquanto comíamos, colocamo-nos ao sol que nem uns lagartos para tentar secar e aquecer um pouco. Após termos recarregado as baterias, apanhamos logo de seguida um verdadeiro “petisco” de barro vermelho que se colava a tudo o que era sítio, tornando a progressão muito difícil.
Passada esta zona hiper-lamacenta, ciclamos num trilho mesmo junto à falésia, muito bonito mas que obrigava a redobrada atenção. Neste mesmo trilho uma pedra mais afiada corta-me o pneu. A “nenha”, não é suficiente para tapar o buraco do pneu tubless, a solução é colocar uma camera de ar. O resto do grupo continuou.
Como conheço bem a zona, trepo uma falésia com a bicicleta às costas para atalhar. Pedalo cerca de 500mt e subitamente, sem que houvesse razão para tal, o carreto pequeno “chupa” a corrente partindo-a em dois.
Ultimamente tem sido uma praga quanto às correntes partidas. Quando fazia competição só por uma vez parti uma , agora cada vez que saio parto quase sempre qualquer coisa.
Definitivamente tenho de ir à bruxa.
A travessia acabou para mim.
Entretanto aparece o resto do grupo e continuam o passeio pela zona mais bonita de toda a travessia, passando pelas praias da Murração, Praia da Barriga e Praia do Castelejo, sempre num sobe e desce constante junto às enormes falésias até Sagres.
A mim, restava-me andar a pé cerca de 4km até chegar à estrada onde a carrinha me apanharia.
Já por muitas vezes fiz a Costa Vicentina a pé ou de bicicleta e por muito que viaje continua a ser um dos locais mais bonitos que conheço. Não é necessário fazer grandes viagens para vermos locais belíssimos, eles por vezes estão aqui mesmo à “porta”

terça-feira, 18 de novembro de 2008

"O REINO FUNGI"


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Já faz muitos anos que vou para a Serra da Estrela andar a pé ou de bicicleta.Mesmo assim, cada vez que lá vou, descubro ou dão-me a conhecer novos recantos que não me deixam de surpreender pela beleza e pelo estado selvagem onde felizmente os encontramos.
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Desta vez, a convite do meu amigo AG. Inseri-me num passeio pedestre dos
www.caminhosdanatureza.com para ir à descoberta do reino fungi, mas desta vez não ia como guia, esta parte competiria ao AG e ao “eco-fungos” Rui.
A instalação dos painéis fotovoltaicos e a viagem recente à Irlanda e Equador, fizeram um buraco no meu bolso do tamanho da cratera do vulcão Cotopaxi. Como tal, o facto da www.casadaspenhasdouradas.pt estar habitualmente esgotada, foi de certa forma um alivio. A opção escolhida caiu inevitavelmente para o Covão da Ponte onde se pode acampar num local junto ao Mondeguinho. Apesar de um hotel como o da Casa das Penhas Douradas ter todo o conforto que se possa imaginar, acampar junto a um rio, adormecer com o barulho da água e acordar com o chilrear dos pássaros são coisas ao qual não troco por nada.
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A noite como previa foi bastante fria, mas não imaginava que iriam estar - 2Cº. Os dedos quase que petrificavam com o frio ao comer o pequeno-almoço, mas pouco me incomodavam perante a beleza do nascer do dia naquele local fabuloso. O inverno que teima em não chegar faz com que as árvores tenham muita folhagem com cores fabulosas, que vão caindo aos poucos com a suave brisa da manhã, em contraste com a forte geada que tinha transformado a erva num vasto manto branco.
Após ter “descongelado” o carro, dirigi-me para as Penhas Douradas para me juntar ao resto do grupo.
Foi bom reencontrar algumas pessoas que já não via há bastante tempo.
Após termos saído da casa das penhas e deixarmos a estrada, entramos no vale do Mondeguinho onde o Rui se embrenhou logo na floresta à descoberta dos cogumelos.
Os cogumelos estão classificados como um reino denominado Fungi. Calcula-se que existam na terra cerca de 1.5 milhões de espécies, mas confirmados existem cerca de 70 mil. Os fungos contribuem de uma forma muito importante para a preservação da diversidade biológica do nosso planeta e estão presentes em mil e uma formas no nosso quotidiano. Algumas espécies são microscópicas e muitas delas estão presentes no nosso dia-a-dia, desde a fermentação do pão até ao fungo mais conhecido e de extrema importância, a penicilina descoberta por Fleming.
Rui é um fanático da micologia. Se esta palavra já é um pouco complicada para mim, muito mais foram os nomes para descrever os nomes e tipos de cogumelos.
Só mesmo um verdadeiro micologista como o Rui soletrava facilmente nomes como Amanita Phalloides, Agaricus Blazei, Psiloccybe Cubensis, Hygrophoropsis, Heterobasidiomicetas e muitos mais “palavrões”, que para a minha ignorância quase que entravam por uma orelha e saiam por outra, sem que o meu pobre cérebro tivesse capacidade de as reter.
As cores outonais estavam bem presentes e no bosque por onde andávamos, estava simplesmente delicioso com todas aquelas tonalidades, só faltava saltar do meio dos cogumelos um duende ou melhor ainda, um estrunfe.
Enquanto caminhavámos pelo meio do bosque íamos recolhendo alguns cogumelos e tentávamos decifrar as suas características tendo como objectivo final saber se eram comestíveis ou não. Fiquei surpreendido pela diversidade de cogumelos e das suas especificações complexas que ao pouco e pouco o Rui nos ia dando a conhecer.
Ao almoço esperava-nos um verdadeiro repasto junto a uns penedos enormes onde uma pequena cascata caía num lago cristalino cheio de folhas de tom alaranjado.
Conheço quase toda a Serra da Estrela, mas este local é sem dúvida um dos mais bonitos e está num local que pouca gente conhece.
De volta à caminhada de barriga muito cheia, o grupo dividiu-se em dois. Um, continou a senda dos cogumelos e outro “alargou” a caminhada para quem quisesse caminhar mais depressa. Como me apetecia esticar um pouco mais as pernas optei por dar a volta maior.
Depois de sairmos do vale do Mondeguinho atingimos o caminho que vem da Santinha. Aqui as vistas são fabulosas, conseguímos deslumbrar bem ao longe a Serra de Gredos e mais perto o Marão, isto só é possível devido ao dia estar muito claro.
Após termos contemplado as vistas seguimos pelo caminho e logo passamos a estrada para fazer a subida final que nos ia levar às Penhas Douradas. Durante a subida pelo maravilhoso trilho e já na parte final somos contemplados por um pôr-do-sol fantástico. Chegamos à casa das Penhas Douradas era já de noite.
Antes do jantar, as pessoas tiveram o seu momento de relaxe na piscina interior e todos os mimos a que tinham direito, claro que eu, aqui, esqueci-me o quanto é bom acampar e por momentos roguei pragas por não poder estar aqui hospedado.
Antes do maravilhoso jantar servido pelo Paulo, ouve mais uma palestra sobre os cogumelos e o quanto devermos ter cuidado, pois a ingestão de cogumelos venenosos, pois podem ser fatais, embora há alguns que podem provocar alucinações.
O jantar teria inevitavelmente cogumelos apanhados naquele dia, o que deixou muita gente apreensiva após terem ouvido a palestra sobre cogumelos venenosos, claro que ali a qualidade estava mais que assegurada, com um especialista como o Rui.
Quando sai do “quentinho” do hotel para ir para a tenda no Covão, olhei para o termómetro e voltei a rogar pragas.
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Desta vez estão –3Cº e não estou com alucinações. O meu saco cama para – 20Cº deu-me uma maravilhosa noite de sono. Ter bom material nestas circunstâncias torna-se fundamental e até me fez esquecer a maravilhosa Casa das Penhas Douradas, para além do mais o dia ia estar magnífico.
Fiquei de me encontrar com o resto do grupo bem perto do Covão, na Cruz das Jogadas.
O grupo ia-se dividir em dois, um para continuar a observação dos cogumelos e outro ia simplesmente caminhar “esticando” a volta.
Inicialmente descemos um pequeno vale que ia ter ao Covão da Ponte. Neste vale ainda o sol ainda não tinha feito a sua aparição. Os pequenos terrenos agrícolas estavam brancos de geada. Por baixo de algumas árvores ainda com algumas folhas havia um misto de branco da geada com o rosa e amarelo das folhas que iam caindo. No meio destas cores todas, os sons dos badalos dos chocalhos das cabras que iam para o pasto controladas pelos enormes rafeiros Serra da Estrela.
A partir do Covão, uma grande rampa que nos levaria até ao Corredor dos Mouros. Inicialmente bastante inclinada e depois mais suave, foi um desnível subida com cerca de 400 metros. Com a aparição do sol a temperatura subiu consideravelmente levando-nos a tirar quase toda a roupa. Para esta altura do ano a temperatura está demasiado alta.
A vista no alto do Corredor dos Mouros é simplesmente fabulosa, tudo o que a vista podia alcançar, alcançava-o porque não havia uma única nuvem que o impedisse, somente restava algum nevoeiro na zona do Sabugal e Penamacor. Este cenário fez-me recordar um pouco as vistas que tive ao nascer do sol quando escalava o Iliniza, a diferença é que lá estava a cerca de 5000 mt e aqui estou a uns meros 1400 mt de altitude e também não tinha picos com cerca de 6000 mt a nascer como cogumelos no meio das nuvens.
Após termos contemplado aquele cenário começamos a descer suavemente para uma capela perdida no meio de castanheiros centenários e depois para o posto de vigia de S. Lourenço. Deste local têm-se as melhores vistas sobre o vale glaciar do Zezere, simplesmente fantástico. Após termos regalado as vistas com aquelas paisagens embrenhamo-nos no meio da floresta de folha caduca.

É fabuloso caminhar no meio da floresta com as mil e uma cores do Outono. Os nossos pés desaparecem no meio da folhagem, o sol penetrava pelo meio das folhas conseguindo que alguns raios desta forma atingissem o solo, acentuando mais as cores do Outono.

Infelizmente tenho de regressar, despedi-me do resto do pessoal que estava comigo, o homem dos cogumelos ainda continuava no meio da floresta. Se para mim isto é um local fabuloso, imagino para ele!

Tenho muita pena que a verdadeira Serra da Estrela seja desfrutada por pouca gente. A grande maioria continua a fazer um tipo de turismo que sinceramente não é compatível com a realidade serrana, ou seja, o típico turista que leva o carro até à Torre.
Seria bom que as autoridades responsáveis promovessem mais o turismo relacionado com a natureza. Desta forma as pessoas iriam conhecer, compreender e respeitar melhor a realidade serrana, ajudando a preservação da
flora, fauna, costumes e tradições.








quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Éire-Ireland-Irlanda

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Quando o Aristides e a Paula me convidaram para ir à Irlanda integrado num grupo do Wall Street Institude, não pensei duas vezes e aceitei.
Ao contrário do que tem sido as últimas férias em que vou quase sempre por minha conta e risco, desta vez foi uma viagem organizada, onde a Paula, incansável, organizou tudo meticulosamente não deixando nada ao acaso.

Depois de uma noite com poucas horas de sono, o autocarro levou-nos até Cliffs of Mother.
Antes de lá chegarmos fizemos uma pequena visita ao Bunratty Castle (irlandês: Caiariam Bhun Raithe) e também à pequena aldeia Bunratty.
Tal como em muitas partes da Irlanda, os primeiros a viverem nestas terras foram os Vikings, mas só em 1270 foi construído a primeira estrutura militar. Entre conflitos, destruições e reconstruções, apenas em 1425 o castelo adquire as formas que conhecemos até hoje. O castelo tem a forma de uma torre onde se destaca a parte frontal com a imitação de uma gigantesca porta. No meio aparece a pequena porta de entrada e mais algumas janelas.
Depois das fotos da praxe fomos sem perder tempo para as Cliffs of Mother. Durante esta viagem, todas as paisagens por onde passámps eram lindíssimas com bonitas casas, campos muito verdes com as ovelhas e vacas a pastar tranquilamente. Ao passarmos pela vila de Kilrush, deparamo-nos com uma maravilhosa vista sobre o estuário do rio Shannon (Sionainn em irlandês).
Finalmente as Cliffs of Moher. Aqui a terra acaba abruptamente e precipita-se sobre o mar numas falésias muito bonitas. Podemos percorrê-las através de um bonito trilho revestido e protegido lateralmente com grandes lajes de pedra lembrando a nossa pedra ardósia.
A semelhança com o Cabo da Roca e a fabulosa Costa Vicentina torna-se inevitável. Esta parecença faz com que haja alguns comentários típicos “para quê vir aqui se temos igual em Portugal”. Quem diz isto muito provavelmente nem conhece bem o Cabo da Roca ou a Costa Vicentina, mas enfim! Cada rocha é uma rocha, cada árvore é uma árvore, tudo é diferente, tudo tem uma beleza impar, há que apreciar cada rocha, cada nuvem, cada planta. É o que eu faço, sentindo uma ligeira brisa que vem do Atlântico deixo-me levar por aquela beleza divagando na minha mente ao som da música Celta.
Junto a estas falésias existe um pequeno museu dedicado à geologia, à fauna e à flora local. Também existe um restaurante panorâmico onde comi uma batata enorme recheada de chili picante que viria, mais tarde, a ter consequências nefastas mais tarde.
Aqui sim, torna-se absolutamente necessário fazer uma comparação. Este museu e restaurante encontram-se debaixo do solo não chocando com a paisagem. De um local onde existem apenas verdes prados, falésias e mar, fizeram um ponto turístico, agradável bonito e equilibrado com o meio ambiente.
No regresso, e de volta à estrada. No regresso paramos na cidade de Limerick (Luimneach em irlandês). Esta bonita cidade fica junto ao rio Shannon e destaca-se sobretudo pelo belo King John´s Castle e a St Mary's Cathedral. Apesar de não termos muito tempo deu para dar um belo passeio pela cidade onde tive a oportunidade de entender o porquê dos irlandeses serem o povo mais católico da Europa. Apesar de ser um Domingo, de tarde, há celebrações e as igrejas estão apinhadas de gente.
Finalmente em Dublin. O motorista de muito poucas falas somente fazia um pequeno aceno com os dedos quando se cruzava com outros motoristas conhecidos. A pontualidade dele era impressionante, em contraste com a dos portugueses.
Antes do jantar num Italiano junto ao hotel fiquei surpreendido quando num supermercado ao comprar bananas, vi que havia
um espaço com produtos polacos. A Irlanda nos últimos anos tem sido “invadida” por polacos devido ao facto de a Irlanda ter o quinto PIB per capita mais elevado do mundo e isso inevitavelmente reflecte-se nos bons salários, na qualidade de vida e obviamente ser atractiva para a imigração.
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Como de costume às oito em ponto já o autocarro está à nossa espera, com motorista a fumar o seu habitual cigarro.
Desta feita o autocarro ia levar-nos para a cidade de Cork (Corcaigh em irlandês). Durante a viagem paramos numa pequena aldeia. As aldeias aqui são muito pitorescas, as casas estão muito bem conservadas e todas elas são muito coloridas. O comércio local prevalece, oferecendo um ar bastante acolhedor onde quer que nós entremos, seja uma mercearia ou um inevitável Pub.
Cork é a segunda maior cidade da República da Irlanda, situa-se no sul sendo atravessada pelo River Lee que desagua na baia Cork Harbour que por sua vez se liga ao Sea of Celtic. Toda esta zona tem uma forte actividade portuária pois Cork Harbour tem o segundo maior porto navegável do mundo depois de Sydney.
Como companheiros para visitar Cork, tinha a simpática Fátima, o sempre bem-disposto Luís e a hiper-activa Matilde. Esta “pequena-grande-mulher” fazia os foguetes, atirava-os, apanhava as canas e ainda as reciclava.
Cork não tem muito para ver a não ser a bonita St Finbarre's Cathedral e as movimentadas ruas onde Luís e Matilde devoravam todas as montras e lojas a uma velocidade estonteante, o que para mim se tornou mais cansativo do que escalar o Cotopaxi ou fazer cem quilómetros de bicicleta.
Ao almoço eu e Fátima decidimos metermo-nos num típico bar onde nos deliciamos com uma maravilhosa sopa enquanto Luís e Matilde continuavam a “maratona” pela cidade.
Pouco depois do almoço estamos de novo no autocarro, mas desta vez para fazer uma pequena viagem sempre junto às margens de Cork Harbour onde se vislumbravam as belas casas e palácios, fazendo-me lembrar um pouco o Laco di Como.
Rapidamente chegamos a Cobh (An Cóbh em irlandês) ou antiga Queenstown.
Desta pequena vila partiram entre 1848 e 1950 cerca de 2.5 milhões dos 6 milhões de habitantes que emigraram nesta altura essencialmente para os EUA. É quase a totalidade das pessoas residentes na Republica da Irlanda actualmente, cerca de 4 milhões. Esta emigração está representada por uma bela estátua de bronze em homenagem a Annie Moore e seus irmãos que foram os primeiroa irlandeses serem admitidas nos EUA. Este massivo êxodo deve-se à extrema pobreza que se vivia naquela época.
Embarcavam praticamente só com a roupa que tinham e eram acondicionados em navios em condições desumanas, fazendo com que muitos não aguentassem aquelas viagens intermináveis em busca do sonho americano.
Para além dos EUA, de Queenstown saíram também
navios para todo mundo incluindo a Austrália que naquele tempo era uma antiga colónia penal.
No bonito museu junto ao porto, encontramos recriados todos estes factos numa recreação fiel daqueles tempos. Também no museu se encontra um espólio da antiga frota de navios que por aqui passaram, entre eles se destacam o mais famoso de todos: o Titanic e o menos conhecido Lusitanea que foi atingido por um torpedo de um submarino Alemão em 1915 ceifando a vida a 1198 passageiros das 1959 pessoas, que iam a bordo.
Bem perto do museu está o cais de embarque, onde saíram num ferry os últimos 123 passageiros para embarcarem no Titanic, que tinha saído do porto de Southamptom e que fazia a última escala aqui em Cobh (antiga Queenstown) no dia 11 Abril de 1912. Quanto ao resto da história, toda a gente já sabe.
Nesta bonita vila para além das lindas casas e apartamentos com as suas mil e uma cores, sobressai por detrás a majestosa e gigantesca St. Colman Cathedral.
Sem dúvida que esta bonita vila de Cobh, “encheu” o olho a toda a gente, para além do mais esteve um sol radioso e uma temperatura amena que é coisa rara principalmente em Novembro. Para completar, assistimos a um pôr-do-sol belíssimo sobre a baia de Cork Harbour.
Durante a viagem de regresso interrogava-me como é que um país que até há pouco tempo era um dos mais pobres da Europa é agora um dos mais ricos do Mundo. A resposta até é simples: qualificação da mão-de-obra, redução dos impostos para atrair mais investimento estrangeiro, redução da percentagem que o investimento público tem no PIB e o mais importante de tudo, aposta na educação. Pelo contrário em Portugal vive-se do betão e alcatrão. Claro que podia dar mais exemplos mas acho que o meu blog não teria capacidade nem tamanho para suportar os meus devaneios e sátiras sobre a política portuguesa.
Ao jantar, quase todos optámos por um restaurante “americanizado” bem ao estilo dos anos 60 com bancos a imitar os dos Cadillac pequenas Jukebox afixadas nas paredes. Só faltava entrar no restaurante o Elvis Presley, the king!
Claro que a comida era aquela que se esperava, toneladas de carne sebosa e mal temperada e regada com molhos que me dava vontade de vomitar só de olhar. Um exagero de comida, até para os típicos portugueses “enfarta brutos”. Claro que depois tivemos de caminhar uns quarteirões em redor do hotel para digerir aquilo tudo.
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Como era habitual o autocarro estava às oito da manhã em frente ao hotel, desta vez o motorista estava mais bem-disposto e á se ria com a boa disposição de Matilde. Apesar de ter uma fisionomia tipicamente irlandesa, por vezes até pensava que ele até que tinha alguns genes portugueses, especialmente no que dizia respeito à condução, pois tinha o pé bem pesado.
Desta vez, o autocarro ia nos levar à Irlanda do Norte (Tuaisceart Éireann em irlandês), para visitarmos Giant´s Causeway.
Aconteceu-me por vezes que, enquanto viajávamos, ficar destraido por muito tempo e quando voltava a olhar para estrada, assustava-me quase sempre, mas rapidamente me lembrava que estava na terra dos “bifes” e aqui se conduzia ao contrario, aliás interrogo-me porque é que eles têm tudo ao contrário em relação ao resto da Europa, começando pelas unidades de medida até à maneira de conduzir.
Durante as manhãs com neblina, passarmos por velhos castelos abandonados no meio dos extensos prados, imagino como Bram Stoker arranjou inspiração para escrever um dos livros mais conhecidos em todo o mundo, que passou posteriormente para o cinema: Drácula. Para além de Bram Stoker, também Oscar Wilde é um dos escritores irlandeses mais conhecidos em todo mundo.
O Norte é talvez a parte mais bonita de toda a Irlanda. O relevo é ligeiramente ondulado com pequenas colinas muito verdejantes de prados e pequenas florestas. Ao aproximarmo-nos da costa, no meio do oceano vislumbramos a Escócia. O autocarro aqui anda relativamente perto das falésias. As vistas são fabulosas, os prados estendem-se mesmo até junto ao mar, como se ali tivesse sido colocado ali um tapete verde. Também passamos por bonitas praias, com o sol que estava até dava vontade de dar um mergulho, mas logo me lembra que a temperatura exterior não era a que estava dentro do autocarro.
Finalmente chegamos às Giant´s Causeway. Aqui existe um pequeno museu, algumas lojas e restaurantes. Para lá chegarmos tivemos de andar um pouco, cerca de quinze minutos. Estas formações rochosas em forma hexagonal, fazem-me lembrar os favos das colmeias. Estas rochas de basalto tiveram origem há cerca de 60 milhões de anos devido às erupções vulcânicas e erosão nos anos sucessivos. Apesar da extrema erosão que estas maravilhosas rochas tiveram ao longo dos anos, noto que é a erosão humana que está a desgastar ainda mais estas formas rochosas. Interrogo-me se os geólogos ou os responsáveis por este parque têm noção disso.
Ao percorrer os “favos” bem junto ao mar, com uma brisa amena, a pequena rebentação das ondas faz-me divagar um pouco nos meus pensamentos e imagino o som da flauta do James Galway. Estar aqui,facilita bastante deixar-nos evadir por uma certa melancolia e concluo que é perfeitamente natural que estas terras haja muitos mitos is lendas. Áliás, cada uma destas pedras tem uma lenda. A propósito, existe aqui uma lenda que fala do gigante Finn Maccool que construi uma passagem entre Irlanda e a Escócia para depois poder desafiar o gigante escocês Benandonner. Deste modo, Ben não tinha como fugir à prococação. Mas à medida que Ben se vai aproximando através da passagem, Finn fica horrorizado com o tamanho do seu oponente. Foge para sua casa para junto da sua mulher e filho. A solução encontrada por Finn e Oonagh, sua mulher, foi vestir-se de criança e esconder a verdadeira criança. Quando Ben chega a casa de Finn de depara com aquela enorme criança, fica de tal modo estupefacto que nem consegue imaginar de que tamanho seria o pai. Aterrorizado com a possibilidade de o encontrar, foge para Escócia a toda a velocidade que podia, destruindo a passagem que tinha sido construido por Ben.
Estas pedras por onde eu ando a deambular são o resto dessa passagem.
Ao almoço, fomos a um restaurante típico, onde não faltou o homem com a gaita-de-foles e que para além desta tocava também pífaro e violino. Só quando ele começou a tocar o Viva la Espanha para nos agradar e nós respondemos com um Viva a Portugal é que ele percebeu que éramos portugueses.
O guisado de borrego típico daquela zona não me agradou muito, mas houve quem tivesse gostado, talvez porque depois de beberem aquelas cervejas de litro diluísse melhor o gosto do ensopado.
Como o almoço se prolongou, saímos um pouco mais tarde que o previsto, para desespero do motorista e da Paula que muito se preocupava com o bem-estar de todos.
De regresso a Dublin. Antes de entrarmos na Republica da Irlanda (Poblacht na hÉirean -irlandês) passamos por Belfast e recordo-me dos bailes da minha terra quando era miúdo e cantávamos Sunday Bloody Sunday dos U2. O passado recente desta cidade não me deixa indiferente com os conflitos que aqui houveram tendo como pretexto a religião para incendiar ódios que ainda hoje perduram. Ódios que são usados e manipulados para que alguns mesquinhos políticos atinjam suas hipócritas ambições.
Como é o meu último dia na Irlanda, não tinha muito mais tempo. Ao contrário do resto do pessoal eu tinha de partir na madrugada seguinte. Mesmo assim ainda deu tempo para ir ao “frenético” centro de Dublin, onde fomos jantar a um italiano que fez a delícia dos que decidiram beber cinco garrafas de Rosé e muitas mais cervejas. A noite não ficou completa sem uma visita ao mítico Temple Bar, que ajudou para atestar com mais umas cervejas para quem ainda não tivesse suficientemente satisfeito.

Fiquei com vontade de voltar a esta terra de lendas e mitos criados pelas simpáticas pessoas, paisagens verdejantes que se fundem com o azul-escuro do mar.

Um muito obrigado aos meus queridos amigos Aristides e Paula por me terem proporcionado esta viagem. Sei o quanto custa organizar este tipo de viagem. Conduzir pessoas sem que elas se apercebam que estão a ser conduzidas não é fácil devido à diversidade de personalidades, e conjugar a vontade de todos exige bastante perícia. Mas Paula fê-lo na perfeição, esteve sempre sorridente e prestável, para quem da ajuda dela necessitasse.



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