quarta-feira, 1 de abril de 2009

Odeceixe - Arrifana

E a travessia continua.
. (clicar nas fotos para ampliar) (o menu do blog encontra-se no fim)
Deixamos os carros em Odeceixe e começamos logo a subir pelo meio da bonita e pitoresca aldeia, até chegarmos aos canais de água, que servem de irrigação para os morangais. O facto dos morangos estarem tão brilhantes, reluzentes e perfeitos, evidenciam a quantidade de químicos colocados pelos produtores. Para além dos pesticidas, insecticidas e fertilizantes usados, os agricultores enterram alguns plásticos usados nos morangais.
Finalmente voltamos às falésias. Apesar de serem muito escarpadas a parte de cima é bastante arenosa, repleta de flores amarelas, roxas, lilazes, etc. Para onde quer que olhássemos era uma orgia de cores, sem dúvida um cenário fabuloso, nem o forte vento conseguia levar os fortes aromas da primavera.
Em contraste, o mar estava bastante agitado com a nortada que se fazia sentir cada vez mais forte. A nossa sorte é que o vento soprava por trás, ajudando-nos por vezes na nossa progressão nas difíceis subidas que se iam sucedendo. Algumas das descidas e subidas eram bastante difíceis, obrigando a maior parte dos caminhantes a rastejarem de cu para descerem e a treparem com a ajuda das mãos para subirem, mas com mais ou menos dificuldade o grupo ia superando bravamente todas as dificuldades impostas pelo rugoso terreno com vales bem fundos.
Depois da degustação gourmet proporcionada pela Caminhos da Natureza na praia Vale do Homem, voltamos a enfrentar mais umas subidas muito escarpadas, o que levou o grupo a protestar ou melhor, exigir um novo almoço gourmet, pois, perante tanto esforço o anterior já tinha sido digerido.
A dada altura fomos obrigados a contornar a falésia um pouco mais pelo interior por questões de segurança. Nos vales que desembocavam no mar, o vento afunilava e tornava-se ainda mais forte. Numa escarpada subida, junto à falésia, as fortes rajadas de vento tornavam impossível a progressão em segurança, como tal fomos obrigados a procurar uma outra alternativa mais para o interior.
A Primavera manifesta-se junto à costa com todo o seu esplendor, fores e mais flores. As mais de 700 espécies de plantas estão no seu máximo, como fosse um concurso e os júris fossemos nós ou os insectos que trabalham incessantemente na recolha de polén.
A dada altura deixamos a costa e dirigimo-nos pelo meio do pinhal e depois por campos agrícolas até à aldeia do Rogil.
O Rogil é conhecido pelo seu maravilhoso pão e também pela deliciosa pastelaria que é
daquelas que fazem “apodrecer” os dentes, no meu caso será mais a oxidação dos ferrinhos do aparelho que tenho na boca.
No fim do dia, nós os “puristas”, como dizia a Teresa, fomos de bicla buscar os carros para depois coloca-los no fim da etapa do dia seguinte e de seguida regressarmos novamente de bicla até ao Rogil. Chegamos ao hotel, já com a iluminação das estrelas, mas nós gostamos é disto, esticar o dia até ao limite.

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Após mais um pequeno almoço daqueles em que aumentamos consideravelmente o diâmetro da barriga, começamos a caminhar junto aos intermináveis canais de água. Tal como o Alqueva que se arrisca a ser um gigantesco elefante branco, estes canais já o são há muito tempo, devido ao seu subaproveitamento.
Depois do planalto descemos para a praia da Amoreira. O mar muito agitado durante o último inverno “comeu” imensa areia em todas as praias e esta não é excepção.
Foi a altura de ir a banhos, não pelo calor nem pela temperatura da água que continua gelada, mas porque tínhamos de atravessar a ribeira que tinha um caudal considerável. Pode-se dizer que foi a “cueca-party”, pois a água chegou-me até quase à cueca e a água estava fria como tudo, mesmo muito fria.
Até chegarmos à bonita aldeia e praia do Monte Clérigo andamos junto à falésia por um piso pedregoso muito irregular, daqueles que dão cabo dos tornozelos.
A partir do Monte Clérigo, voltamos a andar por um trilho bastante arenoso mas ladeado por vegetação rasteira muito bonita, que era varrida sem tréguas pelo vento que voltava a soprar com bastante intensidade.
Não demorou muito a chegarmos à Ponta da Atalaia. Este pequena península, delimitada por altas escarpas que caem vertiginosamente no oceano.
A Ponta da Atalaia tem um aglomerado de ruínas que datam do ano 1130. São os vestígios do Ríbat da Arrifana, uma espécie de convento-fortaleza fundado pelo árabe Ibn Qasî. Apesar de não estar virado para Meca, tenho de admitir que o árabe escolheu um local fabuloso para rezar e meditar, ou o quer que eles faziam naquela altura.
Após comermos mais uns deliciosos petiscos junto às ruínas, a muito custo continuamos. O nosso cérebro tinha dado ordens para irrigar os músculos do estômago e não o das pernas. Eu, e o guia, passamos a ser os maus da fita, por contrariarmos os preguiçosos cérebros.
Após alguns vales chegamos a um pequeno memorial escrito em alemão, onde tem gravado sete marcas em forma de um traço. Estas marcas correspondem a sete alemães que pilotavam um avião Focke- Wulf, e foram abatidos pelos aliados em 1943. Consta que 25 navios dos aliados deslocava-se ao longo da costa, protegidos por uma esquadra de aviões. Reza a história que o faroleiro do Cabo de S. Vicente era espião dos alemães e como tal informou-os sobre a passagem dessa frota. Quando a frota foi atacada, esta foi prontamente defendida pela aviação inglesa que acabou por destruir um dos aviões nazis, explodindo em mil pedaços no ar. Os sete soldados foram sepultados e tiveram honras de estado, donde assistiram às cerimonias os cerca de 6000 habitantes da vila de Aljezur. Apesar da dita neutralidade de Salazar, este tanto apoiava um lado como o outro. Para bem e para o mal, graças a ele este foi o único episódio de guerra em Portugal durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
O trilho continuou pelas falésias negras constituída por rijos xistos, caprichosamente recortados ao longos dos tempos.
A dada altura separei-me do grupo. Eles, subiram até ao vale até ao Vale da Telha, para depois descerem para a Ariifana. Eu continuei sozinho, para poder fazer o reconhecimento de um segmento de costa que até à data era de difícil acesso. Felizmente consegui encontrar um trilho que dava para transpor um vale bastante escarpado e poder subir, para o que resta do forte de origem árabe. Soube-me mesmo bem caminhar um pouco sozinho sem ter de estar preocupado com a segurança e bem estar do grupo. Também não tive de passar pelo Vale da Telha, que é um local feio e de construção desenfreada, que por sinal está situado em plena zona protegida do parque, enfim!!
Do forte da Arrifana as vistas são fabulosas, tanto para Norte como para Sul. Fiquei um pouco a contemplar tamanha beleza, antes de descer para me juntar ao resto do grupo que entretanto tinha chegado.
A travessia da Costa Vicentina, segue dentro de dias.